Professor Nestor Accioly exemplifica com poema de
quatro versos.
Projeto Educação orienta estudantes sobre conteúdos de provas do Enem.
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Do G1 PE
Foto: Internet
“O amor bate
à porta / e tudo é festa. / O amor bate a porta / e nada resta”. Com apenas
quatro versos, o poeta piauiense Cineas Santos consegue entregar um poema cheio
de recursos e sentidos, como explica o professor de língua portuguesa Nestor
Accioly na edição desta terça-feira (11) do Projeto Educação
O primeiro verso diz ‘o amor bate à porta’; no
terceiro, ‘o amor bate a porta’. O que parece uma repetição, na verdade, revela
duas expressões com acepções completamente distintas. E o que possibilita esse
fenômeno é o mais simples dos recursos: a crase, que representa a fusão de duas
palavras, a preposição ‘a’ e o artigo definido feminino ‘a’.
“No primeiro verso, ‘bater à porta’ quer dizer
estar junto à porta, procurando chamar atenção de alguém que esteja do outro
lado, para que ouça e atenda. Esse chamar atenção pode ser por um bater de
palmas. Pode ser também oral. ‘Bater a porta’ é empurrar a porta ou arrastá-la
com violência, indica que o indivíduo está com raiva, está nervoso. Opõe-se a
‘fechar a porta’. Em ‘fechar a porta’, há uma quietude, há um silêncio, parece
que a gente não ouve som nenhum”, analisa o professor.
Mas a literatura e a poesia mostram que essa
oposição pode não existir, dependo do contexto. Na canção 'Trocando em Miúdos',
escrita pelo músico e compositor Chico Buarque de Holanda, ele diz ‘eu bato o
portão sem fazer alarde’ ao falar do término de um relacionamento e acaba por
criar uma nova expressão.
“Isso é um paradoxo porque 'bater o portão' é fazer
alarde. Mas a gente pode dividir o verso em uma parte de razão e outra de
emoção. O indivíduo que termina o relacionamento amoroso, saindo de casa, ele
pega o portão e puxa. É impetuoso, fecha com raiva. Mas vem o lampejo da razão
e diz, ‘peraí, não faça isso, tenha tranquilidade’. A razão domina a emoção”,
finaliza Accioly.
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